segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Farewell/ Mudança de endereço do Tons e Toadas

Olá!

Transfiro e concentro a partir de hoje minhas atividades bloggeiras para o meu blog principal, As Pipas.

Isso quer dizer que as resenhas que vinha publicando exclusivamente aqui serão publicadas exclusivamente lá.

Com esse gesto pretendo manter uma página atualizada, com enfoques mais claros e atrativos novos como por exemplo vídeos em que falarei sobre os temas pertinentes à proposta.

Conto com todos os leitores deste blog nesta nova direção.

Abraços!

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

François Muleka em Curitiba



Na minha opinião, você está diante de grande arte quando enxerga um objeto na sua frente que não para de "transcender".

E com não parar de transcender quero dizer: não parar de gerar um sentido que supera a si mesmo. Você num átimo se vê diante de um ente que concentra animação vital de tal forma que se sua razão ou coração tenta acompanhar os caminhos propostos por ele a única possibilidade é perder-se. E então você cala e então, é claro, é isto que é estar diante da beleza.

Imagine que a vida lhe colocasse diante do seguinte desafio, para testar sua força: você perde sua visão e é colocado num país irreal de um outro mundo. Lá você é deixado até se sentir completamente perdido, sem qualquer direção.

O que você sente não é desespero ou dor. Você simplesmente quer ouvir a vida, mas ela está falando outras línguas, deslavando outras músicas e ela não te vê. Você não a culpa, sente que não a pode culpar, pois, lúcido, sabe que ela não o está condenando e sim apenas correndo em infinitas outras direções. E você é um.

 De repente, num instante, a voz de um irmão (ou irmã) passa a te dar inúmeras coordenadas. Esta voz não está fazendo questão de te amar, mas te lembra do amor.. Esta voz é mais a voz da simplicidade do que a da razão. Esta voz traz tanta razão que se torna impressão: abertura de caminho. Ela diz: vá. Esta voz constrói por prazer inúmeras pontes e é a voz da arte.

Assim foi o som apresentado por François Muleka, Trovão Rocha e Fernando Lobo ontem, aqui em Curitiba no bar 351 (situado na Trajano Reis).

Girando em torno das músicas do primeiro, estes três moleques fizeram uma tal demonstração do que é arte que eu me senti como na época em que alimentar a expectativa de encontrar tesouros em forma de bandas (geralmente de rock) era um dos maiores e mais elevados hobbys à disposição. E de vez em quando acontecia. Aconteceu.

François é a grande revelação como compositor de música brasileira na cidade de Florianópolis. Entenda o que o casamento de suas melodias e seu ritmo, seu conceito próprio, está fazendo em qualquer uma de suas músicas e descubra você mesmo o espanto que este músico tem gerado. Trata-se, com toda certeza, de uma pessoa que está primordialmente, nas suas primeiras aspirações, interessada em fazer música e não outra coisa. Trata-se de um artista-músico e não há maneira possível de desmentir isto.E ele está brilhando e sabe pra onde vai.

Acompanhavam-no o baixista e maior parceiro musical Trovão Rocha (um virtuose que a todo tempo está fazendo arte e não firula e que sempre impressiona pela maturidade) e o baterista Fernando Lobo. Este músico, por sua vez, (bastante conhecido na cena por tocar com o grande Molungo, trabalho solo e vários outros projetos) impressiona pela irmanação ao som de François e Trovão.Além de excelente instrumentista, Fernando (que salvo engano meu tocou pela 2ª vez com seus colegas) entendeu por dentro o que esta música pede. Sua sagacidade no instrumento mostra que estamos diante de outro artista de grande espírito.

Que François volte mais vezes à Curitiba, pois certamente ele tem tudo a ver com aqui.

Entendedores se espantarão.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Serginho do Trombone



08/10/2013 - por ocasião do Curitiba Jazz Meeting. Uma crônica mais afetiva do que crítica, mas que diz algo sobre o trabalho de um músico.


Já estamos na terça, mas não posso deixar de agradecer e homenagear um amigo meu que é grande músico e quebrou tudo no Guairão, principal teatro aqui de Curitiba, neste domingo.

O evento era o Curitiba Jazz Meeting, um curto festival de jazz que envolve boa parte dos maiores músicos do estilo residentes na cidade, mais atrações especiais, muitas delas gringas e com um currículo de dar inveja.

O show desse domingo foi com o músico e produtor Bob Belden, norte-americano a quem Duke Ellington se referiu como "além de qualquer categoria" por sua incrível versatilidade.

O som estava incrível. Uma orquestra formada por instrumentos eruditos e populares executava as composições de Belden, um material bastante sofisticado e cool.

E, pela segunda vez, meu grande amigo Sérgio Coelho, vulgo Serginho do Trombone, ou ainda, Serguei da Trombeta, foi o primeiro músico a improvisar depois do convidado principal e o mais frequente improvisador ao longo da noite.

Ano passado, num show realizado no Guairinha para o mesmo festival, seu primeiro improviso foi atravessado por palmas, gritos e assobios eufóricos, coisa que, nesse nível, só tinha visto em shows do Alejandro Sanz. Eu, que já estava agoniado nas primeiras frases daquele improviso, me emocionei muito.

E dessa vez não foi diferente. Como o trombone é um instrumento que até certo ponto limita o excesso de acrobacias nas frases tocadas pelo músico, o que sobra no caso de um grande instrumentista é procurar a beleza e a musicalidade por elas mesmas.

Pra quem nunca ouviu esse figura tocar, saibam que o Serginho pode estar tranquilamente entre os 3 grandes trombonistas brasileiros da atualidade. Toca com Hermeto Pacoal, Vinícius Dorin, Arismar do Espírito Santo e um ou outro pessoalzinho assim mais ou menos desse naipe.

As frases do Serginho cintilam e expõem a música pela música, pura e simples. "Contam uma história" como uma vez disse pra ele, ao que ele completou: "É, sempre temos que contar uma história."

Fica aqui minha homenagem e meu agradecimento pelo ingresso dado pelo meu amigo e a recomendação de que prestemos de vez em quando atenção nestes heróis da música, os instrumentistas. São heróis que vivem para o estudo e aperfeiçoamento do seu instrumento, pensando muito à frente do estrelato, e que acabam fatalmente se tornando verdadeiros promovedores da luta por uma sensibilidade diferente, mais aguçada e capaz de generosidade e doação. Suas obras são pacientemente construídas e é evidente que não se espera muita coisa em troca (grande dinheiro muito menos) a não ser continuar tocando.

E bebericando...

Isso sim é estar vivo e salvo.

Saúde Serjão!!!

Despeço-me com sua frase:

"O medo de não ser puro é o que traz impurezas."

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Pensata #2

Da relação do teatro com a liberdade

Se eu pudesse ser o outro, libertar-me de ser só eu mesmo, todos os objetos que eu tomo deixando de se referir a mim, sendo incorporados pelos minutos. Se eu pudesse tomar os objetos pelo prazer do deslocamento e da construção. Entrarei em contato com a criação da vida: tomarei este livro para ser outro; serei o funcionário ultra-disposto, atuando, vendo os personagens girando, libertando; irei para o bar desconhecido onde saciarei desejos desconhecidos; darei um outro rosto a mim mesmo, onde me verei. Então entenderei o que é ser Vida em outra Vida. Não serei eu que morrerá: será um outro. Eu mesmo continuarei.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pensata #1

Se um quadro com uma bola disforme no centro em uma composição com pouquíssimos elementos é uma obra de arte pertencente a um autor universalmente respeitado, se se vê ali um estilo, completo em si, único, uma afirmação artística arrebatadora, por que, ao se ouvir uma música baseada em 3 acordes, frequentemente músicos inteligentes atentam apenas para a ausência de outros rumos da harmonia?

Em um quadro como esse é como se escolhessem expressar pelo discurso o estarem vendo apenas uma bola perfeitamente redonda, um retângulo azul abaixo, um fundo sujo creme e branco e rabiscos completamente aleatórios nas laterais. Nenhuma aceitação da experiência estética, nenhum mundo alusivo, nenhuma loucura bela, nenhuma voz absolutamente particular e nenhum vazio proposital, nenhuma ironia, nenhuma acidez em repetir a tua, a minha, a nossa roda.


Assim é a compreensão de vários músicos acerca da "pobreza musical" de, por exemplo, o rock, a música popular e a pop baseados em poucos acordes e pouco arranjo. 

É como se, grosso modo, não se conformassem que uma comida como o sushi fosse crua. E tentassem nos convencer de que para todos os casos e situações a comida assada fosse a melhor, a mais saudável, a mais asseguradamente digna do adjetivo"inteligente".

Por estarem querendo dizer outra coisa, esquecem completamente do fato de que toda expressão artística é de saída abstrata.Compõem então juízos críticos a partir da alienação ante a esse aspecto mais básico da obra de arte.

(Acima o quadro Sol Vermelho de Miró)




Texto sobre rock publicado no Whiplash

O site Whiplash publicou uma análise da música For your life do Led Zeppelin que gostei muito de escrever.

Segue o link:

http://whiplash.net/materias/biografias/206432-ledzeppelin.html

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Trio Pestana



Não é por não contar com um cantor/frontman que a música instrumental  perde suas possibilidades infinitas e que deixa de privilegiar, entre outros elementos, a diversão, qualquer que seja o ambiente em que se esteja.

O posicionamento dos músicos em relação a que espaço querem ocupar numa apresentação ou que espécie de impressão querem causar é que decide como será partilhada a quota de alegria e acréscimo entre músicos e plateia.

A minha aposta é a de que a espontaneidade e a abertura do Trio Pestana são tão grandes, tão claro é o seu espírito de interação e tão evidente sua musicalidade que você jamais se sentirá entediado em seus shows como acaba acontecendo em alguns casos de música instrumental na noite.

Muito pelo contrário: a diversidade do material escolhido (músicas conhecidas selecionadas de vários gêneros) somada à pegada própria da banda transmitem a sensação de um jogo constante entre músicos e público, como se no próprio som houvesse convite, ironia  e aquela discrição aberta, como em um flerte.

Não estou querendo com estas linhas tirar mérito nenhum das gigs de música instrumental que prezem por seriedade, explosão multi-técnica e concentração na tradição e raízes de algum gênero (o bebop ou a escola Hermeto Pascoal, por exemplo). Mas não esconderei que sou da opinião de que muitas vezes o gênero música instrumental perde com a completa falta de pensamentos realmente abertos em torno do que tem apelo e é informação clara para a plateia.

O Trio Pestana é uma banda formada este ano em Curitiba por 3 jovens amantes de música (Mateus Azevedo, Maurício Escher e Anderson de Lima) e em seu show você ouvirá Take Five (standard de jazz composta por Dave Brubeck), Wicked World (do Black Sabbath),  Milionário (aquela mesmo, famosa na versão dos Incríveis) e Maria Fumaça (Banda Black Rio) tocadas com a mesma naturalidade. Saí do primeiro show que vi com a impressão forte de surpresa refletida na pergunta: “por que mais bandas não pensam assim?”

Existem grandes artistas cuja sacada está em um quase sair de cena fazendo com que, entre outras coisas, seja colocado em cheque aquele sentimento, bastante comum na classe artística, de dever natural de ocupar espaço ou "quanto mais melhor". Este é evidentemente o caso desta iniciante grande banda chamada Trio Pestana.

O trio tocando Maria Fumaça: