terça-feira, 24 de julho de 2012

Workshop - Toicinho Batera e Maurici Ramos

 
 
Dar para Toicinho Batera e Maurici Ramos o título de dois dos maiores músicos da ilha e, pelo menos, do sul do Brasil não é mera retórica. Aquele que talvez seja o maior nome da batera nacional, Nenê, é fã e amigo do Toicinho. Maurici Ramos viajou o mundo inteiro durante 4 décadas como baterista profissional, chegando a tocar em produções da Disney e com a Orquestra Sinfônica de Israel.

Toicinho Batera impressiona a todos os músicos com quem toca por sua incrível habilidade de abordar a bateria como um instrumento capaz de desequilibrar na execução de um som. Em qualquer noite que o virmos tocar, estaremos diante de um músico que trata seu instrumento como parte vital do próprio corpo e espírito, levando as possibilidades da criatividade sempre ao limite. Em suas mãos a bateria ocupa um lugar central dentro da música, não sendo nem um pouco equivocada a impressão de que o Toicinho cumpre, tocando, as vias de um arranjador ao vivo.

Vi Maurici Ramos tocar a primeira vez há pouco mais de um ano em uma noite de jazz aqui no centro de Florianópolis. Fiquei impressionado, pois nunca tinha escutado uma bateria cantar tanto. É como se cada aspecto do instrumento tivesse sido estudado com tanta dedicação e capricho que tudo soasse o mais espontâneo e vivo possível, como se nada fosse técnica e tudo "melodia". Maurici é o raro exemplo de baterista que toca com tal elegância e domínio do instrumento que parece se ouvir, sem esforço, de todas as distâncias no lugar em que toca. Dá prazer ouvir cada som isolado que tira da bateria em favor da música.

Ainda mais do que presenciar o encontro de dois monstros do instrumento, a noite de hoje traz a figura impagável destes dois ilustres senhores que atravessaram a vida fazendo o que mais amam que é arte, a mais genuína, inteligente, sensível e dedicada possível.

domingo, 15 de julho de 2012

Tesouro underground em Floripa: o som e a fúria do Punk Jazz


fotos: Jordane Câmara

Apesar do nome do evento poder suscitar certo espanto, o Punk Jazz nada tem a ver com arte conceitual ou com pretensões a apresentar alguma nova mistura ou experimentação destas que acabam fazendo da arte um ring de estupro do apelativo.

Quem esbarrar na simplicidade dos 4 integrantes da banda, que volta a se apresentar no Blues Velvet esta terça, dia 17 de julho, poderá até duvidar do fato de que sejam artistas.


Após 5 minutos de atenção no som feito por Xandão (baixo), Wslley Risso (guitarra), Victor Bub (bateria) e Giann Thomasi (sax), no entanto, estamos convidados a entrar num universo de incríveis técnica, intensidade e bom gosto sonoros onde acredito ser bem fácil entender o nome do projeto – que faz menção a uma música do grande grupo de jazz-fusion Weather Report.

Aos amantes do underground e das descobertas de tesouros urbanos muito recomendo comparecerem neste bar que, dada sua localização e charme lo-fi, possibilita que o jazz tenha muito mais do que o volume de música ambiente.

Acredito que estamos diante de 4 músicos profissionais e adultos, já maduros esteticamente e sabendo o que querem de si mesmos e do som.

Vale a pena prestar atenção na personalidade dos instrumentos dentro de cada tema para que se sinta a presença destes quatro cidadãos na execução de uma música que em muitos aspectos é criada na nossa frente.
    

Um comentário comum de amigos que simpatizam com o jazz é o da dificuldade que têm em “entender tudo” o que se passa numa execução deste tipo de som.

Compreendo-os muito bem, em parte por sempre sentir o mesmo (e achando que a graça é essa) e em parte por perceber que tal sensação pode ter muito a ver simplesmente com a baixa atenção que os meios tradicionais de comunicação em nosso país dão ao estilo, fazendo com que a formação de uma familiaridade natural que se dá, bem ou mal, com outros tipos de música não seja tão comum em relação a ele.

 
De fato, não é casual a alcunha de “música inteligente” que o jazz tem. O estranho é que batizando-o assim por vezes se esqueça que altos teores de força, irrazão e paixão estão igualmente presentes no mesmo. Afinal, trata-se de um som atravessado essencialmente pelo improviso, o que naturalmente podemos pensar justo como um desafio à inteligência.

A recompensa por adentrar no mundo do jazz é o de adquirir o vício em uma música que de tão sensual e inteligente (pela quantidade de informações e pela exuberância da execução) parece poder entorpecer naturalmente o ouvinte, como o cheiro de uma boa cachaça, o gosto de um bom papo, uma carícia amorosa ou, simplesmente, a certeza da participação no pleno gozo da vida.