Não é por não contar com um cantor/frontman que a música
instrumental perde suas possibilidades infinitas
e que deixa de privilegiar, entre outros elementos, a diversão, qualquer que
seja o ambiente em que se esteja.
O posicionamento dos músicos em relação a que espaço querem
ocupar numa apresentação ou que espécie de impressão querem causar é que decide
como será partilhada a quota de alegria e acréscimo entre músicos e plateia.
A minha aposta é a de que a espontaneidade e a abertura do Trio
Pestana são tão grandes, tão claro é o seu espírito de interação e tão evidente
sua musicalidade que você jamais se sentirá entediado em seus shows como acaba
acontecendo em alguns casos de música instrumental na noite.
Muito pelo contrário: a diversidade do material escolhido
(músicas conhecidas selecionadas de vários gêneros) somada à pegada própria da
banda transmitem a sensação de um jogo constante entre músicos e público, como
se no próprio som houvesse convite, ironia e aquela discrição aberta, como em um flerte.
Não estou querendo com estas linhas tirar mérito nenhum das
gigs de música instrumental que prezem por seriedade, explosão multi-técnica e
concentração na tradição e raízes de algum gênero (o bebop ou a escola Hermeto
Pascoal, por exemplo). Mas não esconderei que sou da opinião de que muitas
vezes o gênero música instrumental perde com a completa falta de pensamentos
realmente abertos em torno do que tem apelo e é informação clara para a plateia.
O Trio Pestana é uma banda formada este ano em Curitiba por 3 jovens
amantes de música (Mateus Azevedo, Maurício Escher e Anderson de Lima) e em seu show você ouvirá Take Five (standard de jazz
composta por Dave Brubeck), Wicked World (do Black Sabbath), Milionário (aquela mesmo, famosa na versão
dos Incríveis) e Maria Fumaça (Banda Black Rio) tocadas com a mesma naturalidade. Saí
do primeiro show que vi com a impressão forte de surpresa refletida na
pergunta: “por que mais bandas não pensam assim?”
Existem grandes artistas cuja sacada está em um quase sair
de cena fazendo com que, entre outras coisas, seja colocado em cheque aquele
sentimento, bastante comum na classe artística, de dever natural de ocupar
espaço ou "quanto mais melhor". Este é evidentemente o caso desta iniciante
grande banda chamada Trio Pestana.
O trio tocando Maria Fumaça:
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