quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pensata #1

Se um quadro com uma bola disforme no centro em uma composição com pouquíssimos elementos é uma obra de arte pertencente a um autor universalmente respeitado, se se vê ali um estilo, completo em si, único, uma afirmação artística arrebatadora, por que, ao se ouvir uma música baseada em 3 acordes, frequentemente músicos inteligentes atentam apenas para a ausência de outros rumos da harmonia?

Em um quadro como esse é como se escolhessem expressar pelo discurso o estarem vendo apenas uma bola perfeitamente redonda, um retângulo azul abaixo, um fundo sujo creme e branco e rabiscos completamente aleatórios nas laterais. Nenhuma aceitação da experiência estética, nenhum mundo alusivo, nenhuma loucura bela, nenhuma voz absolutamente particular e nenhum vazio proposital, nenhuma ironia, nenhuma acidez em repetir a tua, a minha, a nossa roda.


Assim é a compreensão de vários músicos acerca da "pobreza musical" de, por exemplo, o rock, a música popular e a pop baseados em poucos acordes e pouco arranjo. 

É como se, grosso modo, não se conformassem que uma comida como o sushi fosse crua. E tentassem nos convencer de que para todos os casos e situações a comida assada fosse a melhor, a mais saudável, a mais asseguradamente digna do adjetivo"inteligente".

Por estarem querendo dizer outra coisa, esquecem completamente do fato de que toda expressão artística é de saída abstrata.Compõem então juízos críticos a partir da alienação ante a esse aspecto mais básico da obra de arte.

(Acima o quadro Sol Vermelho de Miró)




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