segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Serginho do Trombone
08/10/2013 - por ocasião do Curitiba Jazz Meeting. Uma crônica mais afetiva do que crítica, mas que diz algo sobre o trabalho de um músico.
Já estamos na terça, mas não posso deixar de agradecer e homenagear um amigo meu que é grande músico e quebrou tudo no Guairão, principal teatro aqui de Curitiba, neste domingo.
O evento era o Curitiba Jazz Meeting, um curto festival de jazz que envolve boa parte dos maiores músicos do estilo residentes na cidade, mais atrações especiais, muitas delas gringas e com um currículo de dar inveja.
O show desse domingo foi com o músico e produtor Bob Belden, norte-americano a quem Duke Ellington se referiu como "além de qualquer categoria" por sua incrível versatilidade.
O som estava incrível. Uma orquestra formada por instrumentos eruditos e populares executava as composições de Belden, um material bastante sofisticado e cool.
E, pela segunda vez, meu grande amigo Sérgio Coelho, vulgo Serginho do Trombone, ou ainda, Serguei da Trombeta, foi o primeiro músico a improvisar depois do convidado principal e o mais frequente improvisador ao longo da noite.
Ano passado, num show realizado no Guairinha para o mesmo festival, seu primeiro improviso foi atravessado por palmas, gritos e assobios eufóricos, coisa que, nesse nível, só tinha visto em shows do Alejandro Sanz. Eu, que já estava agoniado nas primeiras frases daquele improviso, me emocionei muito.
E dessa vez não foi diferente. Como o trombone é um instrumento que até certo ponto limita o excesso de acrobacias nas frases tocadas pelo músico, o que sobra no caso de um grande instrumentista é procurar a beleza e a musicalidade por elas mesmas.
Pra quem nunca ouviu esse figura tocar, saibam que o Serginho pode estar tranquilamente entre os 3 grandes trombonistas brasileiros da atualidade. Toca com Hermeto Pacoal, Vinícius Dorin, Arismar do Espírito Santo e um ou outro pessoalzinho assim mais ou menos desse naipe.
As frases do Serginho cintilam e expõem a música pela música, pura e simples. "Contam uma história" como uma vez disse pra ele, ao que ele completou: "É, sempre temos que contar uma história."
Fica aqui minha homenagem e meu agradecimento pelo ingresso dado pelo meu amigo e a recomendação de que prestemos de vez em quando atenção nestes heróis da música, os instrumentistas. São heróis que vivem para o estudo e aperfeiçoamento do seu instrumento, pensando muito à frente do estrelato, e que acabam fatalmente se tornando verdadeiros promovedores da luta por uma sensibilidade diferente, mais aguçada e capaz de generosidade e doação. Suas obras são pacientemente construídas e é evidente que não se espera muita coisa em troca (grande dinheiro muito menos) a não ser continuar tocando.
E bebericando...
Isso sim é estar vivo e salvo.
Saúde Serjão!!!
Despeço-me com sua frase:
"O medo de não ser puro é o que traz impurezas."
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