08/10/2013 - por ocasião do Curitiba Jazz Meeting. Uma crônica mais afetiva do que crítica, mas que diz algo sobre o trabalho de um músico.
Já estamos na terça, mas não posso deixar de agradecer e homenagear um amigo meu que é grande músico e quebrou tudo no Guairão, principal teatro aqui de Curitiba, neste domingo.
O evento era o Curitiba Jazz Meeting, um curto festival de jazz que envolve boa parte dos maiores músicos do estilo residentes na cidade, mais atrações especiais, muitas delas gringas e com um currículo de dar inveja.
O show desse domingo foi com o músico e produtor Bob Belden, norte-americano a quem Duke Ellington se referiu como "além de qualquer categoria" por sua incrível versatilidade.
O som estava incrível. Uma orquestra formada por instrumentos eruditos e populares executava as composições de Belden, um material bastante sofisticado e cool.
E, pela segunda vez, meu grande amigo Sérgio Coelho, vulgo Serginho do Trombone, ou ainda, Serguei da Trombeta, foi o primeiro músico a improvisar depois do convidado principal e o mais frequente improvisador ao longo da noite.
Ano passado, num show realizado no Guairinha para o mesmo festival, seu primeiro improviso foi atravessado por palmas, gritos e assobios eufóricos, coisa que, nesse nível, só tinha visto em shows do
Alejandro Sanz. Eu, que já
estava agoniado nas primeiras frases daquele improviso, me emocionei
muito.E dessa vez não foi diferente. Como o trombone é um instrumento que até certo ponto limita o excesso de acrobacias nas frases tocadas pelo músico, o que sobra no caso de um grande instrumentista é procurar a beleza e a musicalidade por elas mesmas.
Pra quem nunca ouviu esse figura tocar, saibam que o Serginho pode estar tranquilamente entre os 3 grandes trombonistas brasileiros da atualidade. Toca com Hermeto Pacoal, Vinícius Dorin, Arismar do Espírito Santo e um ou outro pessoalzinho assim mais ou menos desse naipe.
As frases do Serginho cintilam e expõem a música pela música, pura e simples. "Contam uma história" como uma vez disse pra ele, ao que ele completou: "É, sempre temos que contar uma história."
Fica aqui minha homenagem e meu agradecimento pelo ingresso dado pelo meu amigo e a recomendação de que prestemos de vez em quando atenção nestes heróis da música, os instrumentistas. São heróis que vivem para o estudo e aperfeiçoamento do seu instrumento, pensando muito à frente do estrelato, e que acabam fatalmente se tornando verdadeiros promovedores da luta por uma sensibilidade diferente, mais aguçada e capaz de generosidade e doação. Suas obras são pacientemente construídas e é evidente que não se espera muita coisa em troca (grande dinheiro muito menos) a não ser continuar tocando.
E bebericando...
Isso sim é estar vivo e salvo.
Saúde Serjão!!!
Despeço-me com sua frase:
"O medo de não ser puro é o que traz impurezas."
